domingo, 21 de agosto de 2016

Os 10 maiores casos de corrupção da história do Brasil





Entender por que determinados países se desenvolvem e outros não tem sido até aqui um grande desafio para a humanidade. Para muitos autores que se aventuram a dar respostas a esta pergunta, a solução parece estar em uma palavra simples: instituições. Como lidamos e organizamos as instituições que nos cercam explica, segundo eles, boa parte dos nossos dilemas.
Quer um exemplo? Imagine qualquer instituição que receba verbas do governo para funcionar. Pode ser um sindicato, alguma entidade estudantil, um partido político ou mesmo uma associação de bairro. Em seguida, procure uma prestação de contas desta entidade detalhando onde os recursos foram aplicados. Quando você se der conta que nem mesmo os partidos políticos brasileiros, tão fiscalizados por tribunais de contas, conseguem explicar onde gastam suas verbas, você verá um exemplo claro de que a falta de zelo com o dinheiro público não se dá apenas com aquele político notoriamente corrupto, mas está enraizada a fundo no nosso país.
 
Fiscalizar a aplicação destes recursos, conferir prestações de contas e exigir transparência é uma tarefa que envolve inúmeros órgãos da administração pública. Apenas os tribunais de contas da União e dos Estados nos custam cerca de R$ 10,8 bilhões ao ano para cumprir essa tarefa. A Controladoria Geral da União, criada em 2001, nos custa outros R$ 843 milhões. Parece muito? Apenas o valor obtido de volta no Petrolão cobriria o orçamento da CGU (agora transformada em ministério) por 5 anos.
Graças a essa fiscalização, por exemplo, cerca de 4,7 mil entidades são proibidas de receber recursos públicos do governo federal por conta de irregularidades (a lista cobre desde a Associação Brasileira de Cordel até a União Nacional dos Estudantes). Apenas em São Paulo, são outras 900 entidades irregulares. O motivo? Cerca de 2/3 delas não apresentaram prestação de contas de forma satisfatória. Algumas entidades até permitem que seus balanços sejam fiscalizados, mas utilizam notas frias ou usam o recurso público sem o devido direcionamento, como foi o caso da UNE, acusada pelo TCU de usar recursos do Ministério da Cultura para a compra de bebidas alcoólicas.
Apesar de todo o aparato de fiscalização existente, ainda somos surpreendidos rotineiramente por casos de mau uso do dinheiro público. Segundo o Ministério da Cultura, cerca de R$ 3,8 bilhões concedidos pela Lei Rouanet nos últimos anos não possuem um paradeiro conhecido. Como perder de vista tantos bilhões? O ministério não soube explicar, mas não é improvável que tenha contado também com a má vontade de artistas e empresas que não acharam muito necessário explicar como gastaram o dinheiro que receberam.
 
Muito mais do que o amadorismo de entidades em prestar contas, no entanto, o TCU e outros órgãos públicos têm se notabilizado nos últimos anos pela eficiência com que desmontam grandes esquemas de corrupção e desvios de dinheiro público. Ainda que o valor estimado seja muito maior (segundo o coordenador da Operação Lava Jato, Dalton Delagnol, o país enfrenta cerca de R$ 200 bilhões anuais em corrupção), alguns casos dão a dimensão do problema. Abaixo, listamos os 10 maiores casos conhecidos de corrupção da nossa história.
 
10 – Anões do Orçamento (década de 80 e início dos anos 90)

Valor desviado: R$ 800 milhões
O mais antigo entre os citados aqui, o caso dos “Anões do Orçamento” ocorreu entre o final dos anos 80 e o início dos anos 90. Para investigar o caso, foi aberta uma CPI em 1993, que acabou investigando 37 deputados. Destes, seis foram cassados e quatro renunciaram.
No centro do esquema, segundo a CPI, o deputado João Alves de Almeida, membro desde 1972 da Comissão do Orçamento no Congresso, justamente onde o esquema se dava.
Para desviar os recursos, os deputados adotavam três esquemas distintos. No primeiro deles, incluíam emendas para entidades filantrópicas detidas por parentes ou laranjas. No segundo e mais representativo, incluíam verba para grandes obras públicas mediante comissões de empreiteiras.
No terceiro caso, prefeituras acordavam o pagamento de taxas para incluir obras públicas no orçamento, que seriam pagas por meio da contratação da construtora Seval, do próprio deputado João Alves.
 
Para lavar o dinheiro, João Alves comprava “bilhetes premiados” na loteria. Segundo o próprio, ele teria ganho 200 vezes o prêmio. Era um cara de sorte, dizia.
Dentre os deputados cassados, constavam membros de apenas dois partidos: PTB e PMDB.
9 – Navalha na Carne (2007)
 

Valor desviado: R$ 1,06 bilhão 
Descoberto em 2007, o esquema da Operação Navalha envolvia, a exemplo do caso dos Anões do Orçamento, o uso de emendas parlamentares para a realização de obras públicas. No centro do esquema, a empreiteira Gautama.
Ao todo 49 pessoas foram presas, incluindo o ex-governador do Maranhão, Jackson Lago.
Iniciado na cidade de Camaçari na Bahia, o esquema se estendeu por dez estados, sugando verbas de quatro ministérios (Minas e Energia, Transportes, Cidades e Integração Nacional).
Fraudes em licitações, obras não explicadas, como o caso de uma ponte que liga o nada a lugar nenhum, foram responsáveis por sugar recursos da ordem de R$ 1,06 bilhão.
Segundo apontou a revista IstoÉ, o esquema envolveu inúmeros políticos conhecidos, além do próprio ex-governador maranhense. O atual presidente do senado, Renan Calheiros, teria conhecido pessoalmente o presidente da empreiteira. Obras sob responsabilidade de Olavo Calheiros, irmão de Renan, estão listadas entre aquelas colocadas sob suspeita pela Polícia Federal.
8 – Juiz Lalau e o TRT-SP (1992-1998)

Valor desviado: R$ 2 bilhões
Liderado pelo juiz Nicolau dos Santos Neto e pelo ex-senador Luis Estevão, do Distrito Federal, este foi o oitavo maior esquema de corrupção da nossa história, e desviava verbas na construção do fórum do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo.
As obras do fórum se iniciaram ainda em 1992, por meio de uma licitação que premiou a construtora Incal como vencedora. No mesmo ano, o TCU iniciou a auditoria no processo e chegou à conclusão, já em 1995, que haviam irregularidades na obra.
Em 1998, um mês após o juiz Nicolau abandonar a comissão responsável pela construção, a obra foi então abandonada. Auditorias constatam que apesar de 98% da verba ter sido liberada, apenas 64% das obras estariam prontas.
Dos R$ 232,5 milhões destinados à construção, R$ 169,5 milhões foram devidamente desviados.
Após investigar o caso em 1999, o Congresso descobriu transferências de recursos e do próprio capital da construtora Incal para o Grupo OK, do senador Luiz Estevão. Em 2001, Estevão chegou a ser preso, mas iniciou sua batalha judicial com um pedido de habeas corpus.
Em 2016, há poucas semanas, o ex-senador foi finalmente preso, condenado a 25 anos.
A CGU cobra R$ 2 bilhões de Estevão, valor que ele contesta. Pelo acordo firmado pelo Grupo OK com a CGU, mensalmente o governo teria de receber R$ 4 milhões. Para garantir o cumprimento, cerca de 1,2 mil imóveis do ex-senador estariam bloqueados. Sim: mil e duzentos imóveis.
7 – Jorgina de Freitas (1991)

Valor desviado: R$ 2 bilhões
Jorgina de Freitas atuou durante muito tempo como advogada e procuradora previdenciária. Durante dois anos, ela liderou uma rede responsável por fraudes milionárias no INSS, incluindo supostas indenizações concedidas a supostos beneficiários da previdência.
Em março de 1991, uma investigação interna do INSS acabou descobrindo que um único beneficiário, um motorista de empilhadeira, havia sido beneficiado em US$ 90 milhões, em valores atuais. A sentença em favor de Alaíde Fernandes Ximenes foi julgada improcedente em 2010, quando a Advocacia Geral da União conseguiu anulá-la, evitando um prejuízo de R$ 880 milhões à época, superior a R$ 1 bilhão em valores atuais.
Em 1992 Jorgina fugiu, com ajuda de um mafioso chileno, envolvido com esquemas com PC Farias. Em 1997, acabou sendo presa na Costa Rica, e no retorno ao Brasil, foi condenada pela Justiça e obrigada a devolver R$ 200 milhões. Jorgina foi solta em 2010.
Na época, o valor desviado pela quadrilha equivalia à metade de toda arrecadação do INSS.
6 – Fundos de Pensão (2015)

Valor desviado: R$ 3 bilhões
Criados para garantir aposentadorias e pensões de funcionários de empresas estatais, os fundos de pensão são hoje gigantes que englobam 2 milhões de beneficiários e detém cerca de 15% da dívida pública. Boa parte deles, como a PREVI, dos funcionários do Banco do Brasil, detém participações significativas em grandes empresas, como a Vale do Rio Doce, a Embraer e outras tantas.
São as pequenas transações, envolvendo compras de títulos privados, porém, que levantaram suspeitas na CPI dos Fundos de Pensão. Após meses de avaliação, a CPI, realizada em 2015, concluiu que parte do prejuízo superior a R$ 77,8 bilhões que os fundos acumulam hoje, se deve a contratos fraudados ou suspeitos.
O prejuízo estimado pela CPI, que pediu o indiciamento de mais de 200 pessoas, é de R$ 3 bilhões, apenas nos principais fundos de empresas estatais. Os valores podem alcançam cifras ainda maiores.
5 – Banco Marka (1999)

Valor desviado: R$3,7 bilhões
Durante 4 anos, igualar o real e o dólar foi um dos principais pontos do Plano Real. A medida atrelou fortemente a inflação brasileira à inflação americana, muito menor do que a nossa, e foi um dos principais fatores para levar a inflação brasileira abaixo de 1% em 1998, pela primeira em mais de um século.
Sucessivas crises cambiais em países emergentes, porém, fizeram com que esta medida se tornasse cada vez mais difícil de ser mantida, requerendo elevadas taxas de juros por parte do governo brasileiro. Em 1999, foi a vez da própria moeda brasileira tornar-se alvo de dúvidas, e o Banco Central se viu obrigado a desvalorizar o real.
Em janeiro de 1999, quando o BC decidiu elevar de R$ 1,22 para R$ 1,32 o teto do dólar, o banco Marka, do banqueiro Salvatore Cacciola, foi pego de surpresa. O banco possuía 20 vezes o seu patrimônio líquido em contratos de venda de dólar futuro. Com o aumento do preço da moeda americana, Cacciola sofreu um revés bilionário, e correu para o BC para pedir ajuda. O que aconteceu em seguida? Como você deve imagina, o banqueiro foi prontamente atendido, em uma ação que teria causado prejuízo de R$ 1,5 bilhão na época, ou R$3,7 bilhões em valores atuais.
Em 1999, o banco foi alvo de uma CPI, onde descobriu-se que Cacciola possuía informações internas no BC – o que provocou a demissão de diretores da instituição. O presidente da instituição, Francisco Lopes, recebeu pena de 10 anos de prisão.
Em 2008, Cacciola foi preso em Mônaco, após uma viagem em que saiu da Itália, onde se refugiou.
 
4 – Vampiros da Saúde (1990-2004)

Valor desviado: R$4,08 bilhões
Descoberto pela Polícia Federal em 2004, o esquema dos vampiros da saúde operava envolvendo empresas, funcionários do Ministério da Saúde e deputados federais ao menos desde 1990. O esquema principal do grupo consistia em fraudes de licitações, gerando sobrepreços na compra de remédios e hemoderivados – daí o nome da operação.
Segundo estimou a PF, o esquema teria causado um prejuízo de R$ 2 bilhões, o que corrigido pela inflação, equivale hoje a R$4,08 bilhões.
Cerca de 17 pessoas foram presas, na grande maioria, membros do Ministério da Saúde.
 
3 – Zelotes (2015)

Valor sonegado: R$ 19 bilhões
Iniciada em março de 2015, a operação Zelotes ainda está em andamento. Pelo que se sabe até agora, porém, a operação, que apura corrupção no CARF, o Colegiado de Administração de Recursos Fiscais, envolve dezenas de grandes empresas nacionalmente conhecidas.
Segundo apura a PF, tais empresas e empresários teriam pago propinas, por intermédio de lobistas, para anular multas aplicadas pela Receita Federal. Dentre os nomes suspeitos até agora, mais de 70 empresas, como Gerdau, Bradesco, Santander, RBS (afiliada da Rede Globo no RS) e o Banco Safra.
Segundo a PF apura, o esquema gerou um prejuízo estimado em R$ 19 bilhões aos cofres públicos. Até o presente momento, a operação continua investigando e intimando para depor suspeitos e testemunhas.
Na quarta fase da operação, o ex-presidente Lula foi intimado para depor sobre suspeitas de compras de medidas provisórias que beneficiariam montadoras em seu governo. A empresa de seu filho mais novo, Luiz Claudio, é suspeita de ter recebido valores por parte de lobistas que atuavam para as montadoras.
André Gerdau, presidente da siderurgica Gerdau e o ex-Ministro da Fazenda, Guido Mantega, também foram alvos da PF, sofrendo mandatos de condução coercitiva na sexta e sétima fase da operação.
 
2 – Banestado (1996)

Valor enviado irregularmente ao exterior: US$ 30 bilhões. Valor sonegado: Incerto.
Enviar recursos ilegalmente para o exterior tornou-se durante muito tempo o principal serviço ofertado pelo Banestado, o Banco do Estado do Paraná. Durante anos, centenas de empresas, de muita gente rica e famosa no país, enviaram para a agência do banco em Nova York, recursos por meio de contas CC5, uma espécie de conta criada pelo Banco Central para permitir que brasileiros residentes no exterior pudessem trocar a moeda nacional por moeda estrangeira de forma simplificada.
 
Em 1996, ao ser detectada uma irregularidade de US$ 228,3 mil por um dos agentes de câmbio da instituição, o esquema foi descoberto de forma definitiva, uma vez que o agente não apenas revelou detalhes do próprio crime, mas de 107 outras contas mantidas pela instituição.
Com a instalação da CPI em 2003, os deputados puderam por meio de quebras de sigilo, verificar desvios da ordem de US$ 30 bilhões (ou R$ 30 bilhões na época do ocorrido).
Apesar dos recursos em si não serem necessariamente ilegais, o não pagamento do imposto envolvido configura o crime neste caso. Não é possível, portanto, estimar que todo o valor enviado tenha sido um “prejuízo” ou pago em propina. Apenas uma parte disso causou prejuízo ao governo pela não arrecadação.
 
O caso foi ainda o primeiro levar os holofotes ao juiz Sérgio Moro, que recebeu críticas pela rigidez com que condenou os envolvidos (posteriormente todos inocentados pelo STF). O doleiro Alberto Yousseff, também envolvido no esquemao, saiu do caso Banestado com uma pena menor, pois colaborou com o MP entregando os demais doleiros.
Ao sair da prisão meses depois, Yousseff descobriu que era ele o maior doleiro em operação no país, uma vez que todos os outros haviam sido presos por denúncias dele próprio. Tal fato colaborou para fazer de Yousseff o principal doleiro no caso a seguir, o maior esquema de corrupção da história do país: o Petrolão.
1- Operação Lava Jato (atualmente)



Valor desviado: R$ 42,8 bilhões. Prejuízo causado: R$ 88,8 bilhões apenas na Petrobrás.
Com mais de dois anos de andamento, a operação Lava Jato apresenta números superlativos. Foram mais de 1.200 processos instaurados, 160 prisões (incluindo prisões temporárias), 52 acordos de delação premiada, 209 acusados, 105 condenados, 5 acordos de leniência, 16 empresas envolvidas e mais de R$ 42,8 bilhões desviados.
 
Trata-se também da maior operação da história do país em termos de valores reavidos pelo Estado. Foram mais de R$ 2,9 bilhões, sendo R$ 700 milhões repatriados. Ao todo são R$ 37,6 bilhões em pedidos de ressarcimento. À frente da operação, a maior força tarefa já montada pela Polícia Federal.
Os condenados nos crimes somam penas de 1.140 anos. O motivo mais relevante: fraudes em licitações na Petrobras.
 
À frente do caso, quase uma década depois de ter julgado o Banestado, o juiz federal Sergio Moro.
Envolvendo praticamente todos os grandes partidos nacionais, a Lava Jato destaca-se não apenas como a maior operação em números, mas especialmente pelo rigor com que têm sido punidos os envolvidos. Apesar de nenhum deles ter sido ainda condenado no STF, e inúmeros processos ainda estarem sob sigilo, por envolverem nomes de autoridades com foro privilegiado, a operação já ganhou destaque e, para inúmeras autoridades, como o ministro Augusto Nardes do TCU, não há dúvidas de que já seja amaior da história do país.
 
Como estes, existem inúmeros casos de corrupção no país que ainda merecem ser citados. Esquemas envolvendo o fechamento da SUDAM e SUDENE, o Escândalo dos Precatórios ou a Operação Satiagraha são alguns dos exemplos cujas cifras atingem bilhões. Nestes casos, porém, não se tratam de esquemas diretos onde é possível definir um corrupto e um corruptor. Tratam-se de somas de esquemas diversos em uma mesma instituição.
 
Na prática, o Brasil hoje é mais transparente, e a despeito de a Polícia Federal ter sofrido severos cortes em seu orçamento de investimentos, continua a investigar.
Inúmeras autoridades, como a presidente afastada, o presidente do Senado, ministros e ex-ministros, já foram acusados, ou ainda estão sendo acusados de buscar impedir o andamento da Operação Lava Jato. Garantir o bom funcionamento de operações como esta, que prezem pela transparência e a responsabilidade pela coisa pública, é parte fundamental do papel da mídia, mas especialmente da população, a quem cabe cobrar e fiscalizar.
 
by /spotniks

7 exemplos de como Lula é retratado como herói nos livros didáticos brasileiros

Há inúmeros casos estapafúrdios, como no livro “História para o Ensino Médio”, da Editora Saraiva, adotado em todo país. Nele, entre outras peças de propaganda, os escândalos dos governos petistas são encarados como meros conchavos de oposição.
A história se repete outras tantas vezes. Para os autores do livro “Caminhos do Homem”, da editora Base Editorial, por exemplo, o governo Lula foi um tremendo sucesso. Para eles, “os grandes avanços obtidos em várias áreas” e a “ampliação de programas sociais que favorecem os mais pobres” são “indicadores amplamente positivos do governo Lula” – por isso, suas duas vitórias eleitorais “simbolizaram a vitória de um projeto social alternativo para a consolidação da cidadania plena no país”.
Nem o Plano Real, capitalizado politicamente pelo maior adversário político de Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, escapa. No livro “Novo Olhar História”, da editora FTD, por exemplo, o trecho que fala sobre o plano econômico já traz no título um olhar tendencioso: “Plano Real e seus custos sociais”.
Os exemplos são inúmeros. Abaixo, separamos outras 7 vezes em que Lula entrou para os livros didáticos brasileiros como um super-herói (e como seus adversários são os arqui-inimigos do país).

1.  “História e Vida Integrada”


O livro “História e Vida Integrada” é um best seller do mercado de livros didáticos do país. Publicado pela Editora Ática, com autoria dos irmãos Nelson Piletti e Claudino Piletti, é destinado ao alunos do 9º ano do ensino fundamental (a antiga 8º série).
Livros didáticos aprovados pelo Ministério da Educação para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
Em seu capítulo 19, o livro enumera problemas do governo FHC, como crise cambial e o apagão, e traz críticas às privatizações. No item “Tudo pela reeleição”, os autores citam denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a permanência do tucano no posto mais alto do país. O fim da gestão FHC aparece no tópico “Um projeto não concluído”, que lista dados negativos do governo.
A análise sobre Lula é completamente diferente. O livro cita a “festa popular” da posse e diz que o petista “inovou no estilo de governar” ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
O professor Claudino Piletti, coautor do livro, concorda que sua obra é mais favorável ao governo Lula. “Não tem o que contestar”, afirmou à Folha.
Claudino se desculpou dizendo que é responsável pela parte de história geral da obra e que a história do Brasil ficou a cargo de seu irmão, Nelson. Claudino assumiu que critica o irmão pela tendência pró-Lula e vai tentar convencê-lo a mudar a obra.
“Não dá para ser objetivo. O professor de história tem suas preferências, coloca sua maneira de pensar. Realmente ele [Nelson] tem esse aspecto, tradicionalmente foi ligado à esquerda e ao PT”, disse Claudino.
Nelson Piletti já foi candidato a deputado federal pelo PT.

2. “História em Documento”



O livro “História em Documento”, da historiadora Joelza Ester Domingues, foi publicado em 2007, pela Editora FTD. Na obra, que também é destinada aos alunos do 9º ano do ensino fundamental, ao analisar a eleição de FHC, a autora afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta:
“Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites”. 
Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar. Quando o assunto é o governo Lula, a autora – que diz ter sido imparcial – inicia com a luta do PT contra a ditadura (sustentada pelos aliados de FHC) e apenas cita que o partido fez “concessões” ao fazer “alianças com partidos adversários”.
Assim como “História e Vida Integrada”, o livro “História em Documento” foi aprovado pelo MEC em 2009. À época, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que os livros eram imparciais e que tinham passado por seleção rigorosa.

3. “Estudos de Geografia”


O livro “Estudos de Geografia”, dos professores James Onnig e Ivan Lazzari Mendes, editado pela Saraiva, chamou a atenção do deputado federal, e delegado da PF, Fernando Francischini. Segundo ele noticiou em suas redes sociais no ano passado, ao estudar com seu filho o conteúdo do livro, teve uma surpresa: o livro era uma propaganda escancarada de Lula (e um manifesto de oposição aos seus adversários políticos).
O deputado postou as imagens acima, com algumas páginas do livro, em seu perfil no Facebook.

4. “História Geral e do Brasil”


Publicado pela Editora Spicione, o livro “História Geral e do Brasil”, dos historiadores Gianpaolo Dorigo e Cláudio Vicentino, pinta os mesmos quados comparativos. Nele, o PSDB é um partido “supostamente ético e ideológico” e os anos de Fernando Henrique foram tempos de desemprego, de “compromissos com as finanças internacionais”, em que “o crime organizado expandiu-se em torno do tráfico de drogas, convertendo-se em verdadeiro poder paralelo nas favelas”. E mesmo “dentro das prisões”, transformadas em “centros de gerenciamento do tráfico e do crime organizado”, acrescentam os autores.
O livro critica a prioridade “da poupança externa”, em detrimento da interna, durante o governo FHC. Para fundamentar sua postura, os autores citam o historiador americano marxista Perry Anderson, que teria qualificado a medida de “ingênua e provinciana”.
FHC fez alianças com “um partido supostamente ético e ideológico, o PSDB, e outros partidos supostamente fisiológicos, PFL, PMDB e PTB”.
A abordagem em torno do governo Lula, no entanto, é bem diferente. Os autores destacam a ascensão do PT ao governo, “um partido considerado de esquerda”. Para eles, a “observação de sua prática administrativa” constituíram “importante aprendizado político”.
O livro termina apresentando a tensão entre o Brasil “pessimista”, dos anos FHC, com os anos “otimistas” de Lula, e conclui com um prognóstico:
“As boas notícias nos últimos anos indicavam que talvez os anos do pessimismo a toda prova já tenham passado e, nesse caso, pode ser o momento do não negativo como um novo paradigma para o Brasil”.

5. “Projeto Coopera História”


O “Projeto Coopera História”, do PNLD 2016, é direcionado aos alunos do 5º ano do ensino fundamental e também não escapa da análise maniqueísta em torno dos recentes governos presidenciais. Sobre o primeiro mandato de FHC os autores dizem que:
 
“O programa de privatizações continuou de forma acelerada; entre as estatais vendidas incluíram-se empresas de telecomunicações, energia elétrica, mineração e setor financeiro.”
 
No livro do professor há a seguinte recomendação de acréscimo:
“Como exemplo de privatização, é possível citar a venda da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a divisão do sistema Telebrás.”
O livro elege e enumera outros pontos negativos do governo além da venda de estatais: apagão de energia, aumento das dívidas interna e externa, crescimento do desemprego, desigualdade na distribuição de renda, corrupção no processo da reeleição e favorecimento aos grupos financeiros.
 
Ao falar dos governos Lula, no entanto, a abordagem é bem diferente:
“Ele foi o primeiro presidente originário das camadas mais pobres da população.”
Em seguida, diz que o maior desafio dele foi combater a miséria e o desemprego. Para tanto, “buscou garantir à população mais carente direitos essenciais.”
 
Além de oferecer “bolsas de estudo para jovens pobres em universidades particulares”, o presidente Lula combateu a seca na região Nordeste e promoveu a integração nacional.
 
E no último parágrafo, afirma que “o governo Lula teve como principais marcas a retomada do crescimento do país, a redução da pobreza e da desigualdade social, a estabilidade econômica, o fortalecimento do país nas relações internacionais.”
 
O livro do professor, como subsídio argumentativo sugere ao professor “comentar com os alunos que o Bolsa Família ajudou, de certa forma, na educação e na saúde das crianças, pois as famílias beneficiadas pelo programa eram obrigadas a manter os filhos na escola e levá-los aos postos de vacinação.”
Sobre os escândalos de corrupção, o livro desdenha:
“Alguns escândalos políticos prejudicaram a imagem do governo, no entanto os bons resultados obtidos possibilitaram que, em 2006, Lula fosse reeleito para seu segundo mandato.”
Dilma, por sua vez, é apresentada como “a primeira mulher presidente do país” (o negrito é do próprio livro, para marcar a importância do acontecimento). Na comparação com o governo Lula, seu governo possibilita a continuidade dos programas sociais como o Bolsa Família e ainda acrescenta outros. Ela também é retratada como alguém que aumentou o nível de emprego e o valor do salário mínimo; diminuiu o desmatamento da Amazônia; reduziu a pobreza, as desigualdades sociais e a mortalidade infantil. 
Os autores também procuram isentar a presidente Dilma dos pontos negativos de seu governo, creditando-os às circunstâncias de percurso. A queda no crescimento do país, por exemplo, é em virtude da crise mundial – e não por políticas econômicas equivocadas – e pela demissão de ministros envolvidos em corrupção. 
 
No livro do professor, há uma orientação para o professor:
 
“Comentar com os alunos que, o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em 2014 se conseguiu no Brasil a primeira geração de crianças sem fome, quebrando o ciclo de pobreza que há séculos domina a história do país.”
 
O livro é direcionado para crianças na faixa dos dez anos de idade.

6. Vestibular da Universidade Federal do ABC


Em 2013, Lula recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do ABC.
A Universidade Federal do ABC foi escolhida para ser o carro-chefe da propaganda em torno dos projetos de expansão das universidades federais durante os governos Lula e Dilma. Criada por Lula, em 2005, no seu berço político, a região do ABC, a instituição virou uma espécie de “queridinha” do ex-presidente.
Desde seu nascimento, no entanto, a instituição não escapa do proselitismo político. Logo em seu primeiro vestibular, em 2006, a UFABC apresentou textos com apoio ao presidente Lula.
“A prova é uma propaganda para o governo Lula”, afirmou na época o professor de história da UFSCar, Marco Antonio Villa. “No que diz respeito ao país, foram escolhidas apenas notícias positivas.”
Em discussão no vestibular, a auto-suficiência do país em petróleo, a diminuição das queimadas no interior paulista e o aumento da expectativa de vida dos brasileiros. A prova usou como base notícias publicadas pela imprensa.
Numa questão, o candidato deveria “analisar” o convite das centrais sindicais CUT e Força Sindical para a comemoração do Dia do Trabalho.
O selo da CUT dizia: “Valorize o emprego e a ampliação dos direitos”. Segundo o gabarito oficial, a resposta era a que afirmava que “a CUT defende o emprego e a reeleição de Lula à Presidência da República”.
“A resposta faz uma defesa da CUT e uma ligação subliminar entre a reeleição do presidente e a luta pelo emprego”, afirmou o professor de história Ciro de Moura Ramos. “É uma questão ideológica, imperdoável”.
O vestibular foi feito pela Vunesp, que negou que a prova tivesse qualquer apoio à gestão Lula.
Em 2013, Lula recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do ABC.

7. “Estudos de História”

Outra obra que possui viés maniqueísta da história é o livro “Estudos da História”, da editora FTD. Como conta Fernando Schüler cientista político, professor e doutor em filosofia:
“No livro Estudos de História, da Editora FTD, por exemplo, nossos alunos adolescentes aprenderão o seguinte sobre o governo de Fernando Henrique: era neoliberal (apesar de “tentar negar”) e seguiu a cartilha de Collor de Melo; os “resultados dessas políticas foram desastrosos”. Na sua época, havia “denúncias de escândalos, subornos, favorecimentos e corrupção” por todos os lados, mas “pouca coisa se investigou”.
Nossos alunos saberão que “as privatizações produziram desemprego”, e que o país assistia, naqueles tempos, ao aumento da violência urbana e da concentração de renda e à “diminuição dos investimentos”. E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.
Na página seguinte, vem a luz. Ilustrado com o decalco vermelho da campanha “Lula Rede Brasil Popular”, o texto ensina que, em 2002, “pela primeira vez” na história brasileira, alguém que “não era da elite” é eleito presidente. E que, graças à “política social do governo Lula”, 20 milhões de pessoas saíram da miséria. Isso tudo faz a economia crescer e, como resultado: “telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados e computadores passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas, que antes estavam à margem desse perfil de consumo”.
Lendo isto, me perguntei se João Santana, o marqueteiro do PT, por ora preso em Curitiba, escreveria coisa melhor, caso decidisse publicar um livro didático.”
Não resta dúvida: ainda há muita coisa que os nossos marqueteiros políticos precisam aprender com os autores dos livros didáticos tupiniquins. Neles, um super-herói com o poder de discursar em palanques eleitorais reina absoluto. Como se tudo não passasse de uma saga em quadrinhos.
By Spotniks

O Brasil, senhores, sois vós


 Mas, senhores, se é isso o que eles vêem, será isto, realmente, o que nós somos? Não seria o povo brasileiro mais do que esse espécimen do caboclo mal desasnado, que não se sabe ter de pé, nem mesmo se senta, conjunto de todos os estigmas de calaçaria e da estupidez, cujo voto se compre com um rolete de fumo, uma andaina de sarjão e uma vez d’aguardente? Não valerá realmente mais o povo brasileiro do que os conventilhos de advogados administrativos, as quadrilhas de corretores políticos e vendilhões parlamentares, por cujas mãos corre, barateada, a representação da sua soberania? Deverão, com efeito, as outras nações, a cujo grande conselho comparecemos, medir o nosso valor pelo dessa troça de escaladores do poder, que o julgam ter conquistado, com a submissão de todos, porque, em um lance de roleta viciada, empalmaram a sorte e varreram a mesa?

Não. Não se engane o estrangeiro. Não nos enganemos nós mesmos. Não! O Brasil não é isso. Não! O Brasil não é o sócio de clube, de jogo e de pândega dos vivedores, que se apoderaram da sua fortuna, e o querem tratar como a libertinagem trata as companheiras momentâneas da sua luxúria. Não! O Brasil não é esse ajuntamento coletício de criaturas taradas, sobre que possa correr, sem a menor impressão, o sopro das aspirações, que nesta hora agitam a humanidade toda. Não! O Brasil não é essa nacionalidade fria, deliquescente, cadaverizada, que receba na testa, sem estremecer, o carimbo de uma camarilha, como a messalina recebe no braço a tatuagem do amante, ou o calceta, no dorso, a flor-de-lis do verdugo. Não! O Brasil não aceita a cova, que lhe estão cavando os cavadores do Tesouro, a cova onde o acabariam de roer até aos ossos os tatus – canastras da politicalha. Nada, nada disso é o Brasil.

O QUE É O BRASIL

O Brasil não é isso. É isto. O Brasil, senhores, sois vós. O Brasil é esta assembleia. O Brasil é este comício imenso de almas livres. Não são os comensais do erário. Não são as ratazanas do Tesoiro. Não são os mercadores do Parlamento. Não são as sanguessugas da riqueza pública. Não são os falsificadores de eleições. Não são os compradores de jornais.
Não são os corruptores do sistema republicanoNão são os oligarcas estaduais. Não são os ministros de tarraxa.Não são os presidentes de palha. Não são os publicistas de aluguer.Não são os estadistas de impostura.

Não são os diplomatas de marca estrangeira. São as células ativas da vida nacional. É a multidão que não adula, não teme, não corre, não recua, não deserta, não se vende. Não é a massa inconsciente, que oscila da servidão à desordem, mas a coesão orgânica das unidades pensantes, o oceano das consciências, a mole das vagas humanas, onde a Providência acumula reservas inesgotáveis de calor, de força e de luz para a renovação das nossas energias. É o povo, em um desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade.

 Rui Barbosa
Trecho da conferência "A Questão Social e Política no Brasil". Autógrafo no Arquivo da FCRB.
Obras Completas de Rui Barbosa.
V. 46, t. 1, 1919. p. 69

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